segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sublime e transcendental

- E no seu blog? Você escreve sobre o quê?

Ela orgulhosa, sorriu com o olhar e respondeu:

- Eu escrevo sobre o amor.

Ela escrevia divinamente sobre o amor, sublime e transcendental, o qual ela acreditava existir.

Amores platônicos, e neoplatônicos eram o mais próximo que ela já havia chegado de uma relação amorosa. Mas não era sobre esse amor que ela falava em seus textos. Ela escrevia sobre o amor que via em seus pais, casados há mais de 20 anos, o amor que lia nos livros e poemas, o qual ouvia nas músicas que contemplava, e nos filmes que assistia.

Seu mundo era cercado por uma bolha de poesia e paixão. Em cada gesto, ou em cada atividade que executava, havia um toque mágico. Realmente ela não vivia no mesmo universo que as pessoas ao seu redor.

Um dia sua foto foi vista por ele em uma rede social. Junto à foto, ele pode ver o sorriso, a felicidade, a delicadeza e o endereço do blog dela.

Ao terminar de ler o primeiro post, ele já estava completamente apaixonado. Realmente o blog, e o amor ali apresentado, eram paixonantes.

Todos os dias durante um ano ele leu e admirou tudo aquilo que ela escrevia, e acompanhado dos versos de Casemiro de Abreu, observava a evolução de seu neoplatônico amor, “és bela e eu moço, tens amor, e eu medo”. Assim como a dela, a vida dele também era movida a pão e poesia.
Não que ele fosse tímido, inexperiente, ou inseguro. Ele apenas tinha medo de frustrar a idealização do amor feita por ela.

Um dia as palavras certas chegaram à boca dele, e os olhos dela se admiraram ao lerem a poesia do outro lado.

Depois de uma resposta formal de agradecimento por parte dela, eles trocaram MSNs e passaram a conversar diáriamente. Ela percebeu que seu amor sublime, transcendental e, agora, poético existia, e de certa forma ela era correspondida. Porém o medo de frustrá-la ainda não permitia que ele saisse do poema e mostrasse a ela a realidade.

Seis meses se passaram e apesar da intimidade virtual, eles ainda não haviam se conhecido pessoalmente. Com medo de que ele deixasse de ser o seu grande e verdadeiro amor e se tornasse apenas um companheiro de poesia, ela cultivou sua coragem por um tempo, e ligou pra ele. Ao ouvir a voz dele ao telefone, ela só exclamou:

- Eu estou apaixonada por você.

Ele chorando, perdeu a voz por alguns segundos, e depois respondeu:

- Eu sonho com esse dia há tanto tempo.

Finalmente ela encontrou alguém que entrasse dentro da bolha poética na qual seu mundo estava envolto.

Hoje em dia ela ainda escreve sobre o amor, mas não sobre o mesmo amor de antes. Hoje ela escreve sobre o amor de seu dia a dia, sobre o amor que ela vê nos olhos dele cada vez que o beija, o amor contido em cada palavra que sai das bocas de ambos. O amor sublime e transcendental que estava presente no momento em que os dois deram as mãos.

O blog dela? fazsevidaempalavras.blogspot.com


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A cada ano que começa prometemos várias mudanças, sejam elas começar a academia, ou entrar de dieta. Para esse ano a minha inteção de promessa é começar a falar menos de mim aqui no blog, e usá-lo mais vezes. Sim, escrever textos onde eu deixe de ser personagem e passe a ser apenas narradora. Então vamos começar a cumprir a promessa.

No caminho até a casa dele, ela ia alisando os longos cabelos loiros e cantarolando Chico Buarque - Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres, que só dizem sim... e eu te farei as vontades, direi meias verdades, sempre à meia luz, e te farei, vaidoso.. - como se de alguma forma ele fosse escutar aquilo.
Ao se encontrarem se beijaram diretamente, com a intimidade de um casal de namorados, esquecendo os impecilhos que existiam no ano anterior, quando se viram pela última vez.
Ao chegarem em um lugar mais íntimo, se sentaram e conversaram até serem calados por outro beijo. A música, desconhecida por ela, que tocava ao fundo, favorecia o ambiente contemplado pela falta de luz. Ao sentir o cheiro do perfume dela, ele disse:
- Mulheres sabem seduzir.
Ela retrucou:
- Nem sempre.
Ele finalizou:
- Quando querem.
Os olhos azuis, deixaram de se fixar nos pretos quando o beijo saiu da boca e foi descendo pelo corpo dela, até os pés. Cada parte foi contemplada e acariciada com o mais inteso amor e cumplicidade.
Ela passava as mãos pelos músculos dos braços dele e depois as delizava até os cabelos, enquanto mordia levemente os lábios.
Estavam dentro um do outro, com os corpos colados, como resultado do intenso suor provocado pela conbustão ocorrida entre os dois. Ambos protagonizavam um intenso sorriso, como mistura de felicidade, prazer, desejo e romance.
Sentaram-se na beirada da cama. O quarto era iluminado apenas pelas luzes da cidade que entravam pela janela, e pelas pequenas labaredas dos cigarros acesos. Ela sentou-se atrás dele e acariciou de leve suas costas, enquanto o silêncio de ambos refletia o fascínio pela situação alí vivida.
Eles se olharam, sorriram e se deitaram abraçados. Dormiram romanticamente envolvidos por outra música desconhecida por ela.
Na manhã seguinte, ao acordar, ele deu um beijo na testa dela e depois entoou um apaixonado bom dia, acompanhado apenas por um sorriso por parte dela.
Eles se despediram e foram embora, com a certeza de que não aconteceria de novo, mas que o encantamento seria eterno.